Eu não durmo. Passo a noite em claro, olhando para as paredes. Às vezes, ligo a televisão. Se tiver sorte, ninguém acorda para desligá-la.
Passo o dia zanzando pela casa. Olho pela janela, abro os armários e a geladeira, tiro uma coisa do lugar, coloco em outro. Mais do que tudo, observo. Sempre a mesma rotina. Tudo exatamente igual.
A casa tem andado cheia de gente. Antes, costumava ficar vazia, mesmo nos fins de semana. Os outros moradores também fazem tudo igual todos os dias. Agem como se eu não estivesse lá. Mas eu sei que eles estão. É o barulho da televisão, do rádio, do liquidificador, do celular, do chuveiro… Não para nunca!
A vontade que dá é de surtar de vez. Fazer voar o liquidificador, mudar o rádio de estação, tacar fogo no chuveiro. Talvez assim eles entendam como eu me sinto.
Não tem sido fácil ser um fantasma.